Na Rota do Vinho da Borgonha – Gevrey Chambertin
Não subestime a capacidade da Borgonha lhe encantar! Nessa região da França o vinho é feito há 25 séculos, mas a arte vinícola foi mesmo aprimorada pelos monges na idade média, com a ajuda dos diversos ‘Climats da Borgonha’ e das suas estrelas: as uvas pinot noir e chardonnay.
Volto desta viagem à Borgonha cheia de memórias e já com vontade de ir novamente para esse lugar tão especial, com suas pequenas vilas – tão próximas umas das outras -, com seus vinhos cheios de personalidade e com seus sabores surpreendentemente autênticos.
Lá você verá muitos Climats, nome dado a um pedaço específico de terra com sua combinação única de características físicas, orientação e estrutura geológica, aliadas ao conhecimento do homem desse lugar. É um micro-terroir, com suas qualidades identificadas e reconhecidas. Os climats da Borgonha são Patrimônio Mundial da Unesco.
Precisaria de mais talento literário para expressar em palavras o que se experimenta na Borgonha: visões, histórias de vida e de morte, gostos e emoções. Tudo isso em um passeio despretensioso pela Route des Grands Crus ou por uma outra estradinha qualquer.
Um lugar sedutor é Gevrey-Chambertin, que fica na Côte de Nuits – uma das regiões vinícolas da Borgonha -, não muito longe da capital da região, a cidade de Dijon (esta também cheia de encantos). Esta vila tem mais vinhedos individuais famosos que qualquer outra da Borgonha.
Seguindo pela Route dos Grands Crus, após passar pelos “sagrados” vinhedos do Romanée-Conti – na comuna de Vosne-Romanée -, chega-se a Gevrey-Chambertin. Lá, visitei o Domaine Quivy, para degustação de alguns vinhos elaborados pelo Monsieur Gerard Quivy (que gosta do Brasil e da MPB). Foram quatro os vinhos provados, todos elaborados com a uva pinot noir, e todos eles finos, longevos e aveludados:
Les Evocelles 2014
Appellation Gevrey-Chambertin Contrôlée – não passa despercebido, com aroma rico em cerejas, estrutura balanceada entre fruta e frescor, ótima permanência na boca. Seus vinhedos ficam na parte mais despretensiosa da Vila.
En Champs 2015
Appellation Gevrey-Chambertin Contrôlée, delicadeza dos aromas de frutas negras, finamente encorpado com taninos maduros, toque de especiarias, levando a um final bem estruturado e duradouro. Um vinho de classe! Ganhei uma garrafa do En Champs 2008; belo presente da amiga que viajava conosco.
Chambertin Premier Cru Les Corbeaux 2016
Appellation Gevrey-Chambertin 1er Cru Contrôlée, cheio de personalidade, aromas mais complexos que os anteriores (cereja, cassis, violetas, carne), boca muito suculenta, com bom ataque de acidez e taninos firmes e bem resolvidos, muito persistente. Se já estava tão bom, fico imaginando como será daqui há 10 anos.
Charmes-Chambertin Grand Cru 2015
Appellation Charmes-Chambertin Contrôlée, impressionante nos aromas (que precisariam de mais tempo pra serem decifrados), de caráter elegante, puro e cheio de camadas. Ostenta grande finesse, e mostra mais cedo todas as suas qualidades. Uma das maiores expressões da casta Pinot Noir, que pode ser guardado por muito tempo, ou não.
Uma experiência fundamental para entender porque os vinhos da Borgonha são tão elegantes e complexos, exprimindo talvez, como nenhum outro, o conceito de terroir (ou melhor dizendo, o conceito de climat).
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